segunda-feira, 3 de junho de 2013

Frustrações

Mas ás vezes (acho que a expressão “ás vezes” é uma maneira sutil de não enfrentar a realidade e amenizar a palavra “sempre” – tão forte, né?), sinto uma vontade absurda de preencher minha mente de algum pensamento qualquer e recorro a uma página do Word.

Percebi que sempre que recorro a essa página é quando eu quero encontrar abrigo em algum lugar, um recanto para exprimir a (falta de) idéias. (Repetindo) Afinal, é de mim para mim. E aí venho e me sinto quase se como estivesse sendo confortada pelas letras que digito no teclado, ainda que elas não partam de algum lugar e muito menos cheguem a lugar algum. É apenas um exercício de criatividade não-criativa.

Eu poderia vir aqui e escrever uma história, mas não há histórias a serem escritas. Eu poderia vir aqui e dissertar sobre algum assunto, mas não há assunto que valha a pena ser dissertado. Eu acho que com o tempo fui perdendo a habilidade sob mim mesma. E hoje me perco em um mar de insegurança, e tento me prender a qualquer galho na beirada para  não me afogar. Ainda que para mim mesma, eu não consigo escrever qualquer coisa que tenha algum conteúdo!

O próprio conteúdo é o nada. Mas o que seria o nada? Seria ele a ausência de algo? Mas a própria ausência de algo já faz ser alguma coisa (e talvez eu apenas esteja tentando me confortar com isso, mas que seja assim). E quando eu penso que não posso pensar em nada, já estou pensando em algo. Isso é louco! E esse nada me consome de uma forma que eu não consigo exprimir ou explicar porquê.

Talvez eu deva fazer algo em relação a isso. Talvez não. Porque são nesses momentos que a gente mais descobre o que há dentro de nós. Não vou dizer que é bom se sentir assim. Mas aí a gente sente uma cobrança vinda de nossa própria mente, dizendo algo como “você precisa pensar em alguma coisa!”. E aí a gente se dá conta de como se prende aos nossos próprios “preconceitos” (não consigo pensar em uma palavra melhor para exprimir aqui), de que precisa estar sempre com algum conteúdo em mente.
Será mesmo que isso é necessário para nossa existência? Talvez (olha aí eu amenizando as palavras de novo) seja. Porque se sempre tivéssemos idéias novas, isso seria normal, banal. Todas as novas idéias, embora fossem novas, se tornariam lugar comum. Não seria interessante o próprio fato de ter uma nova idéia. Enquanto quando não se tem isso o tempo todo, é uma coisa extraordinária.

Eu adoro as coisas extraordinárias da vida. Aliás, gosto muito da palavra em si. Ex-tra-or-di-ná-ria. Caramba, que bonito isso. Extra-ordinário. Extra-comum. O que não é normal. Eu não gosto do que é normal, e me cobro de não ser quando sou. Estranho isso, né? Na verdade estamos sempre nos cobrando de alguma coisa. Os sonhos devem ser uma espécie de cobrança. É que à palavra cobrança, é atribuído um sentido pejorativo, como se fosse algo ruim. Mas pense bem, quando estamos atrás de um sonho, um objetivo na vida, estamos nos cobrando para que os alcancemos. Isso está certo? E se não o alcançamos, nós nos frustramos. Talvez (...) fosse mais interessante não esperar nada, não nos cobrar nada para que não hajam quedas. Mas essas quedas é que são as mais interessantes!

O ser humano tem um instinto masoquista que parece gostar de cair, se machucar. “Isso faz crescer”, dizem uns. E até acredito que estejam certos. Mas nunca concordei com essa parada de se ter sonhos, um objetivo a ser cumprido, porque embora isso nos leve além, para frente, também é responsável por muitas auto punições, de certa forma. Eu não sei se concordo e não sei o que eu acho.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Branco

Um gole de café. A vontade de passar as idéias pro papel em branco. Eu olho para ele fixamente, enquanto o seu branco me toma a mente. Eu me perco na falta daquela cor enquanto ela me sufoca. Como dói doar meus pensamentos e sentimentos a ele! O papel em branco carece o vazio da mente, mas naquele momento, ele me pedia para que fosse preenchido. E me fita como se pedisse por um pouco de cor, que não consigo exprimir. O papel em branco não sabe o quanto é difícil separar entre vírgulas e pontos finais, o que nem o mais racional dos pensamentos consegue colocar em ordem.  Ele é cruel. Mendiga a minha letra na maior vontade de ser dominado por palavras e alguma coisa que ponha fim em sua agonia de ser branco, vazio, pálido por não ser.

E quando termino a minha frase com reticências... Ah... Quando as termino assim... O papel não entende que o faço por não conseguir exprimir mais que alguns pontos, e imprimo em cada um deles o suspiro profundo de cada lágrima que transborda de dentro... Para dentro. E o papel em branco também não compreende que quando escrevo, deixo de ser idéia e me torno letra, assim, separada, difusa e principalmente organizada. Ah, como é difícil se deixar diluir e separar para fazer a vontade mimada do papel em branco!

Aqueles dias em que ele permanece em branco são os dias em que eu não consigo me separar. Sou só sentimento, diluído em alguns pensamentos desconexos que teimam em não virarem palavras. E quando elas viram, ficam ali, me fitando junto ao papel – não mais branco – como se estivesse me desafiando. “Vamos, olhe para mim! Somos seus sentimentos mortos, expostos e concretos na tua frente! Olhe para nós, não nos transforme em reticências. Faça de nós tinta que representa as exclamações da tua alma, vamos, ande, escreva!”.

E o que o papel em branco não sabe... E nem se importa em saber... É que para exprimir cada palavra posta aqui, eu preciso matar os sentimentos. Esquartejá-los cruelmente dentro de mim para que virem letra. E eles jorram sangue, que tem cor azul de caneta bic.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Viagem na viagem


Neste final de semana, fiz uma viagem para Minas Gerais, e passei por três cidades: Paraisópolis, Santa Rita e Pouso Alegre. Ainda que elas sejam geograficamente próximas ao estado de São Paulo, as diferenças em termos de estilo de vida e costumes fazem parecer de planetas distintos...

Não pude deixar de reparar no fato de como tudo tem proporções estrondosas por lá. Ok, não tudo. Nem tão estrondosas. É só pra sentir o drama mesmo. Mas vou exemplificar: imagine uma cena em que o ônibus freia bruscamente. Ainda que não houvessem outros carros na estrada, ao fundo, foram ecoados gritos de “socorro”, “arre, "segura as criança”, em uma atitude claramente exagerada - para mim.

Uma situação tão banal me fez pensar em como a vida das pessoas podem ser completamente diferentes (e como e não havia pensado nisso antes? tsc tsc). Por estar sentada na parte da frente do ônibus que rumava de Paraisópolis à Santa Rita, pude notar que grande parte dos passageiros desceu em meio a estrada, zona rural. Ao ver cada par de pernas caminhar em estrada de terra – quando não, no mato – seguindo seus destinos, eu pensei em como deviam ser os seus dias. Tranquilos, com leveza, dias passando devagar e sem muitas interrupções, a ponto de se incomodarem com um fato tão “insignificante” (com aspas, afinal, o insignificante é relativo, como pude ver).

E aí, faltando ainda alguns quilômetros para chegar na cidade de Santa Rita, com o celular sem sinal e o Sol queimando meu rosto e mente (mentira, não estava tão ruim assim, mas achei poético falar)... Eu me rendi aos pensamentos. E pensei no quanto eu repudio o sentimento de tédio, e na verdade, o sinto com certa freqüência, em contraponto à vida dos “passageiros da estrada” (ó que nome bonito eu dei pra eles!).  Acredito que isso se deva à nossa vida no mundo de tecnologias em que tudo parece mais do mesmo. Não é nossa culpa (ou é, de certa forma, mas deixemos esse assunto pra outrora), dado o caráter de reciclagem que nossa cultura apresenta. É como se tivéssemos um mundo de informações a nosso alcance, e ainda assim, não soubéssemos o que fazer. Se não houvesse esse mundo tão fácil de ser tocado, as coisas poderiam ser sentidas – e notadas - com mais intensidade.

E sei lá. Assim acaba o texto, e os pensamentos. Sem conclusão alguma. Cheguei ao meu destino, onde abracei com força minha prima e pude experimentar por algum tempo a sensação de intensidade. Logo, voltei à São José e vi o tédio acenando do lado de fora da janela. Sem freiadas bruscas, sem emoção alguma.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Interminado

“Um gole de vida, por favor” – Pedi ao reflexo no espelho. À mim, que estava ali, inerte, refletida apenas na forma imagética de um ser humano.  Mirando os próprios olhos e os vendo apenas como pupila, íris, cílios. Que permite detectar a luz e transformar a percepção em impulsos elétricos. Para olhar novamente e mirar o vazio.
Já dizia Baudelaire para nos embriagarmos. De vinho, poesia ou virtude. Mas é necessário sentir o primeiro gole, seja do que for: do vinho, da poesia, da virtude, de porra, de oxigênio, de instante, constante, incessante. Desde que desça devagar, percorrendo e queimando cada centímetro de carne pelo corpo. É preciso se deixar possuir por este pequeno delírio.  Toda pessoa traz em si uma dose de ópio natural incessantemente secretada e renovada, mas tudo que eu podia sentir era o vazio e tudo que eu podia ouvir eram as batidas do meu coração, pulsando apenas por estar vivo. Mas seria mesmo de vida? Ou apenas de sangue? 
Queria irrigar o corpo de alma, mas era apenas isso o que tinha: sangue.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Literaturando

Desparnasiane-se.
Descomplique-se. Desmetrifique os pensamentos. Lapide o amor. Valorize o preciosismo da vida. Transponha os átomos dos Anjos. Rume ao novo. Liberte-se.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Luz

Café gelado
aquece
Tua voz aos ouvidos
transcede
Lampejo de vida que acorda
precede
Dia que há de vir pra roubar a hora
enlouquece.